Médicos podem sentir alterações de 1,5 a 2 centímetros no
tecido mamário. Uma examinadora cega trabalha de forma muito mais precisa,
podendo encontrar anormalidades milimétricas.
O
sentido do tato em pessoas cegas é muito apurado e sensível, conseguindo muitas
vezes perceber também os menores nódulos e alterações num seio.
Isso
levou o ginecologista Frank Hoffmann, da cidade alemã de Duisburg, à ideia de
empregar mulheres cegas como "examinadoras táteis medicinais" ou MTU,
na sigla em alemão. Em
2006, ele fundou a iniciativa Discovering hands (mãos descobridoras).
A cada
ano, por volta de 74 mil mulheres contraem câncer de mama na Alemanha, e a cada
ano mais de 17 mil morrem da doença no país, muitas vezes porque ela é
detectada muito tarde. Para diagnosticar possíveis tumores em fase precoce, os
médicos utilizam diferentes exames de prevenção, como mamografia e o exame de
ultrassom.
Além
disso, toda mulher é aconselhada a fazer mensalmente o autoexame da mama. Duas
vezes por ano, esse exame deve ser realizado por um ginecologista. Existe ainda
a possibilidade de confiar o exame a uma examinadora cega, que trabalha juntamente
com o médico.
Mama
dividida em quatro zonas
Novo
método não deve substituir procedimentos convencionais
Marie-Luise
Voll ficou cega aos 52 anos em consequência de um glaucoma. Desde 2008, ela
trabalha em estreita cooperação com o consultório de Frank Hoffmann.
A
formação dela levou nove meses. Anatomia da mama, terapia e diagnóstico estavam
entre os temas do currículo. Ela conta que os exercícios de treinos foram
feitos nos próprios seios. "Fixamos tiras de orientação em nós mesmas e
nas orientadoras para os exames de treino", explicou Marie-Luise Voll.
Com
essas tiras, o seio é dividido em quatro zonas. Assim, a examinadora pode
apontar com precisão onde estão as possíveis alterações ou nódulos no tecido,
descrevendo-as ao médico.
Métodos
convencionais não são substituídos
Até
agora, a experiência com as "examinadoras táteis medicinais" foi um
sucesso: entre 450 mulheres, foram encontradas 56 alterações na mama. "Pelos
exames, demonstrou-se claramente que as MTU são capazes de palpar tão bem
quanto especialistas bem treinados", explicou Frank Hoffmann. Segundo o
médico, elas teriam encontrado uma série de alterações que não teriam sido
percebidas pelos médicos.
Hoffmann
acrescentou, no entanto, que esse método não poderá substituir procedimentos
convencionais como a mamografia ou o ultrassom. Existe ainda outro ponto: o
tempo que uma MTU tem à disposição, de 30 a 60 minutos por paciente. Dessa forma, elas
podem se ocupar de forma intensiva com as mulheres e tentar tirar-lhes o medo
antes do exame.
Um
método para países em desenvolvimento
Com a
iniciativa Discovering Hands, Frank Hoffmann teve experiências muito boas desde
2006. Atualmente, as examinadoras podem se formar em vários lugares da
Alemanha, e desde fins do ano passado o ginecologista tem o apoio da
organização Ashoka. A organização fomenta os chamados "empreendedores
sociais".
Dessa
forma, o ginecologista recebeu uma bolsa de estudos da Ashoka e reduziu seu
expediente no consultório para se dedicar intensamente ao desenvolvimento da
iniciativa Discovering Hands.
Hoffmann
está convencido de que o método da palpação com a ajuda de examinadoras cegas
também é apropriado para a prevenção em países emergentes e em desenvolvimento,
onde há carência em equipamentos técnicos e infraestrutura. Para mulheres
cegas, por sua vez, abrem-se perspectivas completamente novas, como também uma
nova profissão.